sexta-feira, dezembro 09, 2005

Cinco pessoas. Um quarto.

Uma divisao, um quadro, uma janela, papeis, um sofa.

Uma sala vazia com um quadro de mau gosto, de lado uma janela velha de frente para um sofa gasto. Nao chao, papel por todo o lado.

Um quarto simples, vazio. Uma janela com vidros bacos, um sofa com os bracos rasgados e o chao coberto de papel. Um quadro escuro e velho.

O teu quarto. O teu lugar, como sempre lhe chamaste. O sofa de veludo vermelho em que tantas noites te sentaste para ver a lua passar devagar. Por tras encontrei estas velas. Sao daquelas de cheiro. Nao sei porque estao escondidas. Nunca me falaste nelas... O quadro. O quadro que encontraste naquela casa em Sintra. Ninguem gostou dele, mesmo assim insististe leva-lo contigo.
Sento-me no chao e comeco a ler todos os papeis que encontro. Poemas, musicas, desenhos, pautas, palavras soltas em papeis rasgados. Penso como deve ficar bonito com as velas acesas.
O teu quarto quase vazio esta cheio de segredos e o ar que nele se respira leva-me para a tua loucura.

O meu lugar. O meu espaco. O meu quarto.
O meu quadro, que trouxe de Sintra numa noite que la fomos. So eu me apaixonei pelas cores mortas, sujas do retrato de uma menina com o vestido vermelho escuro. Ao lado a minha janela, daquelas velhas e de madeira com a tinta a lascar, mas `e a minha janela de frente para o meu sofa. Um sofa que ja nem me lembro se me derem ou se encontrei. Sempre me lembro dele existir e lembro-me dele sempre velho e gasto. Com o veludo russo e os bracos rotos. Passei infinitas noites sentada no meu sofa para ver as sombras que a lua faz ao passar. Lembro-me de todas as fases. Por vezes acendia algumas velas que espalhava pelo chao e de barriga para o tecto ficava a espera que a lua aparecesse. No fim escondia-as atras do sofa porque era o meu segredo ,o meu ritual. Nunca te contei isto.
So agora reparo na quantidade de coisas que escrevi. Nunca tinha espalhado tudo pelo chao. Fica bonito com as velas acesas, devias gostar. Parece um filme, uma fotografia.
Fotografia! Quase nao me lembrava...
Deve estar uma entalada por tras da moldura do quadro. A tua. A quem eu nunca contei o segredo das velas. Nem que tinha uma fotografia tua.
Tenho um quarto quase vazio cheio de segredos e no ar a minha loucura.

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era uma vez um homem que largou as flores

Ontem na minha rua, todos os passaros deixaram de ser azuis. E o ceu nunca mais se viu vermelho.
Ontem na minha rua, a chuva deixou de ser cafe. E o chao nunca mais se viu de vidro. Ontem na minha rua, todos os candeeiros deixaram de guiar a luz. E os meus dedos congelaram.
Ontem na minha rua, ninguem apanhou as estrelas que pocuravam alguma boca aberta. E no lugar delas nunca mais se viu a entrada do mundo.
Ontem na minha rua, coisas estranhas aconteceram.
Coisas estranhas fazem-me confusao.
Ha dois dias, um homem largou as flores porque eram pesadas demais e a minha rua mudou.
Faz todo o sentido, entao.

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quarta-feira, dezembro 07, 2005

seis vontades de rir

Sao trinta e sete estrelas no parapeito da tua janela, oito passaros no passeio, catorze flores a fechar e cinco ondas a rebentar na minha cara.
Tres liberdades de expressao, cinco sonhos esquecidos, uma joaninha morta no meu quarto e seis invernos passados no jardim.
Quatro vozes na tua cabeca, tres gotas de perfume, um livro sem fim, dez coisas em que me tranformei e vinte dias para comecar.
Nove quadros por pintar, um seculo que chega atrasado, dois violinos no chao e sete gemidos no meu peito.
Mas nada disto nos define.

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terça-feira, dezembro 06, 2005

- So um bocado...

- Assim?

- Nao. Olha para mim, assim.

- Esta melhor?

- Nao. Presta atencao: assim! Como estava antes!

- Antes de que?!

- Antes de teres tocado!

- Desculpa, nao tenho certificado para o manuseamento de coracoes partidos.

- Quando foi para partir nao precisaste de curso nenhum...

- Nao estava a espera de um coracao tao pesado. Podias ter avisado!

- Nem me deste tempo...agora como `e que fico? Assim partida?

- Nao, chega ca. Assim, olha.

- Assim?!

- Escondes aquela parte e tens de ter cuidado para nao tocares na outra. Assim ninguem vai reparar.

- Achas mesmo?

- O coracao so se parte por fora! - disse ele

Nao acreditei.
Quando me voltei so estava eu.
E nao chao o meu coracao.

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quarta-feira, novembro 30, 2005

Abre e deixa-te entrar
fumas umas lagrimas, metes uns barcos a navegar
e com o mapa na cara
deita-se mais uma noite fora.

Deixa de segurar a porta.
Vem e enche o acucar da tua boca
com palavras que afinal sao numeros.
Efeito especial contagioso.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Fase de negacao

Debaixo destas estrelas em particular,
fiquei com nuvens na cabeca
e por onde os bracos se encontram
nem tudo `e sobre amor.

Adivinha onde encontrei a lua...
No inicio e no fim.
No meio nunca tive mas penso que `e uma fogueira.
Nem tudo `e sobre amor.

O vermelho lembra-me o silencio,
danca como o tempo
e atira-se a minha frente
na loucura de uma doenca nova.

Nem tudo `e sobre amor.

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terça-feira, outubro 18, 2005

Sete

Tens sete olhares diferentes.
Um quando vez a noite entrar no ceu devagarinho.
Outro, um olhar partido, quando os pes tocam a relva molhada pela manha.
Durante aquela musica, o teu olhar `e de chuva.
Quando sentes o cheiro de cafe, ou das ondas ou de uma tangerina o teu olhar `e brilhante.
Tens um de vidro. Quando olhas mas nao ves.
`E cego o teu olhar se me tocas.
Um que nunca vi com medo de gastar as cores que deles jorram ate chegarem a mim.

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segunda-feira, outubro 17, 2005

A humidade corroi o que resta de tudo. E os sons tribais aumentam. Sao folhas que caem como gotas do nosso suor. Cai uma. Cai outra. Caem todas e fica a flor. A flor que danca enquanto o sol muda de cor. Nunca mais houve sentido ou verdade na tua pele. Tens uma luz permanente que escorre dos labios que lambo ate me sentir arder. E ha um po. Um po que se levanta com as dancas do teu ritual quando te agarro pelas pernas.
Escorregas-me.
Dizes que entrei na hora errada.
Nunca sai.

sexta-feira, outubro 07, 2005

As cordas da boca ecoam.
Ambíguas maltratadas, enroladas na saliva cansada e mole.
Ecoam mortas e venenosas.
A saudade hoje é um sofá. Um sofá e um telefone e outras coisas que se ouvem muito alto. Mais longe. Mais inventadas. Nao sei ler as rugas vermelhas que se afundam no fundo das outras caras. Lixa-se a pele, mas nao apaga. A omissao das palavras é uma pintura espalhada pelas paredes do corpo. Um bocadinho abstracta. Nunca muda. Quando a boca fecha o corpo fala. A garganta transborda outras vontades. Outras cores. Outros satelites. Outras maneiras. Caminhos a seguir ao contrario. De cima so se desce do avesso, de tecido na pele com a etiqueta de fora. Russo e gasto perde linhas do teu aroma. Fugiram a brincar pelas curvas da perplexidade.
Olha,caiu um mar no copo dos teus olhos e um passaro também.
Mas a vontade de voar nao se afogou. Encolheu. Relativamente.

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domingo, setembro 25, 2005

Tardou a tarde no cair dos dedos
e a marcha atrás guiada pelas luzes
nunca encontrou o caminho de volta
para o sempre, todo o sempre.

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sábado, setembro 24, 2005

Desconfio que explodi. De noite. Explodi por dentro.
Estava a dormir, mas de manha podia ver espalhados no azul do meu quarto bocados da minha parte lunar.
Escorriam.
Como daquela vez que me ensinaste a voar e fui contra aquela estranha forma de pensar.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Sem sentido

"- Gostas quando o vermelho se mistura com o respirar e o barulho `e como lagrimas a ferver?

- Nao. Doi-me.

- Gosto de ouvir as bolhas.

- Nunca viste?

- Nao. Nao tenho olhos."

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sábado, setembro 17, 2005

Para ler a noite

Na parte da frente lia-se " Devolvido".
Devolvido.
Mas pode-se devolver assim coisas?
Devia haver uma lei que proibisse devolver partes do corpo.
Ha um pedaco de alguem por ai a cair.
Que triste.

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segunda-feira, setembro 12, 2005

Um tempo para recuperar o sopro.
Nada para dizer. Tudo para sentir.
Para voar. Boiar no ar.
Agarrar luzes, sentar na ponta do pensar.
Para onde foi o meu sopro? Os cantos e o beco do corpo?
Aquilo que me entrava, subia e alimentava?
Nalguma corrente de ar...
Deslizei. Ficaram as marcas na agua. E o eco da tua boca.
E o rio do teu mar.
Por todos os arrepios, nao encontrei as palavras nem o que quero dizer.
Nao me olhes assim. Ja nao da para entrar.
Estou forrada com musgo, impermeavel ao teu olhar.

quinta-feira, setembro 08, 2005

A razao `e nao ter razao

Porque nao posso ter dois coracoes. Um em cada ponta do corpo. Porque tenho manhas febris e caminhos mortos. Porque tenho agua ao longo de todas as minhas pontas. Porque perco o equilibrio. Porque me parti em tres e perdi o meio. Porque te respiro. Porque nunca termino o dia. Porque de noite encolho. Porque tenho em mim tudo o que nao ha em ti. Porque na tua parte esta a minha. Porque tens flores a cair dos olhos. Porque es solto. Porque nao es outro. Porque sinto a chuva ferver. Porque es vivo. Porque tens um campo magnetico que atrai. Porque vejo em ti tudo o que nao ha em mim. Porque juntos nao temos nomes. Porque na lua so ves a lua. E eu no sol so vejo o sol. Porque nos esticamos pelo chao. Porque es o meu meio. Porque contigo tenho nuvens. Porque tens na lingua as minhas palavras. Porque es languido. Porque es uma ponte com nevoeiro. Porque sonhas. Porque passeias o corpo com o meu. Porque es afiado. Porque tenho vontade. Porque sim. Porque nao.
Ou so porque nao sei a razao.

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segunda-feira, setembro 05, 2005

poema para ti

Perfeito.
O teu tacto `e doce
E no corpo nao tens fim.
Marcas o chao com
Amor. Nunca tive palavras de amor.

Para mim as palavras sao para ti.
A noite larga estrelas que
Repousam na curva que te desce os ombros.
As ondas ja tem um rebentar diferente.

Tambem sei sonhar.
Imagino-te assim...

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sexta-feira, agosto 26, 2005

Olhos

Quero esses olhos.
Sao escuros. Sao pretos.
Quero olhos puros.
Sao os teus que nos meus se perdem,
misturados num sonho.
No sonho certo.
Sonhar com os teus olhos pretos abertos
dentro dos meus olhos fechados a sonhar.

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sexta-feira, agosto 12, 2005

A minha pequena história

Entrelacado, mesmo rente à minha pele está o universo.
O universo é um grito que espera ser encontrado.
Na tua mao está o meu grito.
Encontra-me.

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sábado, agosto 06, 2005

So tenho a pele

Na pele so tenho a pele,
ja nao sou vermelha.
Nem ca dentro nem la fora.
Deixei o meu vento passar,
com ele foi-se a cor.
Um tumulto de silencios guarda lugar
na minha cabeca.
Dobro-me no nada e um sopro foge
para onde a sombra reflecte o inexistente.
De cor palida recomeco o meu mapa,
as areias vao ter de esperar.
Tenho o sabor triste de cores sumidas.
Fiquei num lado aberto para onde ja nada cai,
as teias nao se deixam soltar.
O peso dos sentimentos prende o corpo ao chao.
Estou oca e presa. Nunca voei.

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sexta-feira, julho 22, 2005

um ser do mar

A caneta acabou.
No ar um sorriso fica inacabado.
O pensar distorce tudo aquilo que te foi desenhado.
Esperas o dia se cansar para
Lavares o corpo sem
Esforço. Com saudade.
Uma vontade de pisar areia e o
Mesmo som de palavras a cair.
Sempre palavras a cair
Enroladas em ondas de papel.
Recomeças. Viver porque ha vida, nao porque te
Doi morrer.
O resto que se solta fica numa fotografia.
Mar. Es da agua, porque aqui
Apenas vieste
Realçar a beleza do que é ser um mocho e ensinar.

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quarta-feira, julho 13, 2005

Vem de dentro

Vem de dentro.
E entra-te.
Sei porque vi.
Reflexos de cores que se misturam pelo ar que respiras.
Se pudesses ouvir...
Soa a quando se beija gotas de chuva.
Tento perceber como é bom sentir o teu corpo aos bocados no meu
mas nao chega esta noite, nunca tenho tempo.
Mudas todas as noites. Nao queres que te entenda.
Vou deixar-me deixar-te deixar.
E assim vou-te vendo.
Aos brilhos.

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quinta-feira, julho 07, 2005

perdi o sentido apaguei o corpo

Procuro
Em
Redor
Da
Imaginacao
O
Sonho
Espalhado
No
Tremor
Incandescente
Da
Ocultacao

Amarroto
Palavras
Ao
Gemido
Utopico
E
Incorporeo
Oco
Como
Olhar
Ruidos
Poeticos
Ofegantes

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sexta-feira, junho 24, 2005

O tempo `e uma laranja

Corto o tempo aos gomos e guardo-o no bolso.
Preciso de fatias temporais agarradas,
presas na minha anca.
Planto raizes e cor,
desprendo toda a agua que visto pela manha.
Aguardo o amadurecimento soculento do meu sumo.
A minha voz `e como as sombras de uma arvore
que o teu vento nao consegue apagar.
O corpo move-se mas nao se desfaz.
Nao ha forca.
`E pequeno o teu vento. Como o meu bolso.
Como a laranja que tinha gomos de tempo.

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sábado, junho 18, 2005

Deito-me na parede

Vejo letras cair para dentro da sala vazia.
Sao quadradas, gastas, pisadas como o chao do espaco vazio
que `e a minha divisao.
Nao quero. Quero que pare. Nao quero que pares.
Descem. Descem e eu nao tenho fundo.
Nao tenho fumo. Nao tenho tudo.
A minha ilusao. A minha manta ferrea.
E do pulso ao fim dos dedos
ha uma teia partida
que revolve a poeira de sorrisos interrompidos.
Abro a cortina de sonhos e prendo o tule de desejos sobre a cama.
Deito-me na parede.
Vou dormir.

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terça-feira, junho 14, 2005

O teu talvez

De todas as palavras que me disseste, so o "talvez" ficou em eco bem no meio, bem ca dentro, bem em mim.
Parece que me anestesias com esse teu falar pre fabricado, pre estudado.
Pensas que `e facil ter um mapa dentro do corpo? Nem sei quantos becos ja assinalei.
Cada toque teu `e um corredor cheio de portas.
Julgas que nao te sinto? Nunca foste discreto.
Nao me facas engolir baldes de areia molhada, eles acomulam-se e eu nao me sei filtrar.
Nao me dizias que era feita de flores e tinha cheiro de canela e sabor de acucar amarelo e olhos de india? Eu acreditava, imagina. Apesar de nada me sair da pele, sentia um aroma a especiarias sempre que me derretia ao sol.
E o vento onde esta? Onde esta o tufao que trazias debaixo do braco como complemento indespensavel `a noite que carregas em ti?
Perdeste. Esqueceste. Roubaram.
E querias tomar conta dos meus sonhos? Nem da tua metereologia mediocre sabes cuidar.
A moldura que antes te enquadrava nas correntes do meu mundo fica-te larga, fica-te escura. Deixaste-te expandir para dentro.
Estas entalado entre a lingua e o ceu da boca.
Estas contra um ceu que decerteza `e uma mistura de cores. Devia ter desconfiado quando pintaste o meu de cor invisivel.
Sabes que colorir de olhos vendados nao ensina o caminho para o prazer de nao ir a lado nenhum, o caminho de ser diferente? Sabes.Nem te importas.
Estas destoado e nem reparas que a cada pegada uma mancha de tinta se descola.
Um dia trocaste os sentidos de todos os relogios que existiam dentro da minha cabeca. Que prazer `e esse em me ver desorientada?
Es doentio. Es viciante. Es languido.
Ficava a ouvir-te tocar cora. Claro que nao sentias, mas acreditas que tinhas luzes a cair-te em cima dos ombros nus? Eu sei que nao. Nunca acreditaste no poder da luz. Nunca acreditaste no poder de nada. Nem sei como te perdeste no fim daquela chuva de meteoritos.
Nao me dizes, mas estas com medo. Eu sinto. Eu sinto-te.
De todas as minhas camas, foste a mais longa, mais estreita, mais fria, mais vazia.
Mas tinhas cor...muita cor.
Vou beber cha de caramelo e cuspir fogo.
E o teu "talvez" ainda ecoa bem no meio, bem ca dentro, bem em mim.

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quinta-feira, junho 09, 2005

Asas precisam-se

Um fantasma rasgou-me as asas, amarrotou-as.
Escondeu-as no jardim do passado.
Nao tenho tomado conta de ti.
Tantas vezes me pediste para te ver dormir,
tinhas medo da noite.
E eu encolhia-me contigo para te sossegar.
Desenhamos mundos que ninguem vai conhecer.
Colava sonhos na parede e tu
pegavas desejos de embalar.
Do tecto estrelas caiam em chuva cadente
mesmo por cima da tua cabeca.
Os pequenos simbolos do teu medo
andavam pelo chao, sozinhos.
Colecciono pecas dobradas com o teu rir,
as nossas lembrancas.
Dizia-te das nuvens, do nevoeiro, da terra molhada
e tu nada perdias.
Aceitavas e pregavas no corpo
a vontade que tenho de te abrir.
O vento arde quando caminho pelo teu sabor.
Esperas-me ate poder voar?

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quarta-feira, junho 08, 2005

Partiste-te

Queimas, ardes, estilhacas o meu altar.
Foste o meu inti, foste o meu mar.
Foste musica, agora es so ar.
Es o po das teclas do meu corpo.
Quase sempre, mais do que devia,
vejo-te quebrar a luz do caminho que escolhes.
Ja es transparente, gelado e ramificado.
Partes-te.
De vidros nos olhos, estas partido.
Partiste-te.
Partes.
Partes para o mundo dos cacos que nao se colam.

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sábado, junho 04, 2005

Turbilhao

Sinto coisas.
Coisas que me saem da cabeca.
Entram nos pes e estimulam
toda a minha palpitacao.
Sou interiormente explorada.
Desarrumam sentidos,
despenteiam sensacoes,
desmentem emocoes.
Focam ilusoes.
Rebentam a minha escala.
Rolam-me pelo ar,
fervem-me na totalidade.
Quando passam `e um turbilhao.
Nao tenho mao na substancia
que me percorre.
E eu nao me importo.

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sexta-feira, junho 03, 2005

Do vento nada sei

Sei da vontade que tenho em fluir,
dos sentidos que tenho gelados e engolidos
com sabor de cafe.
Sei das gotas e das teias que guardo em papel.
Sei de fugir. Sei de voltar.
Sei de caminhos que vao a ti.
Sei das asas que me deste. Sou anjo e nem sei planar.
Sei das horas interminaveis, infinitas do teu dormir.
Sei da imperfeicao dos sonhos.
Sei do traco que te sobe ate a nuca
e se perde na descida dos ombrais.
Sei da folga da minha pele.
Largos, ja me caem aos pes, os impulsos e a razao.
Nada para apertar o coracao.
As penas soltam-se.
E do vento nada sei.

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segunda-feira, maio 30, 2005

Sinal

Deitada no manto do teu corpo aguado
lanco uma pedra ao ceu porque quero um sinal.
No tempo que espero a queda,
a tua agua seca
e as minhas libertacoes prendem-se
`a verdade que pousa no teu peito.
Fico numa poca onde as linhas da tua cara
sao invertidas, desfocadas.
Nao sou falcao.
Nos meus olhos tens a dimensao do universo
e tu nao passas de um bocado condensado
das minhas aguas.
Nao te quero chorar.
Abres as comportas da minha cara,
deixas-te escorrer.
Nao percebo porque largas a corrente
que sou eu.
Rachei a tua forma perfeita e delicada.
O sinal recebi-o encharcada,
por te tentar pegar.
Agora sou as pegadas de uma praia vazia.
Ja nao me molhas.
Nem gotas tenho para derramar.
O silencio deixou-se ouvir.
A musica acabou cedo demais.

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quinta-feira, maio 26, 2005

Novas margens

Dos meus olhos partidos nasce musgo.
Chovo. Sou humida por fora. Quase sempre.
Tenho bolhas azuis e vermelhas
a preencher o espaco oco da minha voz.
Das maos furadas, prestes a abrir
flutuam forcas agudas.
Cubro-me de invisibilidade
e parto para so mais uma vez,
derreter-me em sinfonias gastas.
Desejo o unissono das minhas melancolias.
Enfeito-me de letras, rodopio
e amorroto os dedos dos pes.
Cerro-me de desejos tao mais doces
que a minha boca insipida.
Lambo a pele pegajosa, melosa
das minhas notas ate ferir a lingua
com tons mesclados.
Meto a minha vida a um canto,
de castigo.
Vou fazer-me crescer ao som sublunar
das minhas novas margens.
No meu corpo letrado brota voracidade.
Expelo de mim movimentos, fantasias,
essencias, portas de moldar.
Sou voluvel.
Aspiro segredos derrotados, derramados
em pocas de fumo que cuspo para o ar.
Mando-me para cima do meu ser inventivo.
Nada no meu voo caido. Voei. Caí.
De um lado. De outro.
Harmonisei-me.
Escolhi nao ser simetrica.
So.
Simplesmente.
Completamente.


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quarta-feira, maio 25, 2005

Mudei-me

Mudei-me.
Mudei-me para o teu corpo.
Durmo mesmo entre os teus olhos,
a tua boca humida.
Passo tardes deitada nas tuas ancas
moldadas pela aromatizacao da tua cor.
Do umbigo bebo mel e o mentol que exalas
uso como perfume.
Nas tuas pernas canto e acho outras formas
de sentir o vento.
Subo os degraus das tuas costas musicais,
desvendo ceus ocultados pelo nevoeiro
que te sai da pele.
Bebo cha na curva que desce dos ombros,
mergulho no infinito dos teus bracos longos, caidos.
Distraio-me com a destreza dos teus cabelos.
Embruto-me com a necessidade de te ver brilhar.
Ocupo uma porcao distinta
da tua materia dancarina e distraida.
Engoli ja tantas das tuas mares.
Nunca tive recheio que chegasse
para te contar.
Agora na gruta do teu peito
limpo o po do teu carmesim.
Confesso.
Moro em ti
desde que te senti respirar.

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domingo, maio 22, 2005

Poema `a Azulencias

Pessego.O teu cheiro `e o cheiro de um pessego
Azul. Daquele teu azul suave ao toque e ao paladar
Requintado dos duendes que te provam.
Azul tao mais alto que a lua que tentas
Beber. Azul tao quente que so tu podes tocar.
Entoas as formas mais extraordinarias
Na danca do teu corpo azul veludo
Solarengo. Penetrante. E de
Azul em azul, e de
Zen em zen
Unes calmamente o tom que
Levitas. Tu personificas a cor azul.
Eclipsas e ergues e bailas
Naquele espacinho azulado. So teu.
Conheces coloracoes inexistentes,
Impetuosas, impenetraveis, incandescentes.
Antes da Era azul, eras transparente, nao tinhas sabor.
Sabes? Nao podias mesmo ter outra cor.

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Espumante

Foi mesmo agora.
Reparei que em mim ha o vicio da tua espuma.
Da tua espuma, imagina!
Sempre me julguei viciada no dardejar
que exalas da pele.
Nas corporalizacoes que singelamente desmembras,
nas complicacoes das palavras.
No ardor da facilidade de sonhar,
na tua amplificacao constante.
Na forma quente e vermelha que te moves.
Em ver-te de olhos fechados.
Nos acordes da tua simplicidade absorvente, exacta.
No silencio da tua ausencia.
Em aspirar-te regularmente.
As minhas tendencias habituais...
Procuro em ti restos metaliferos.
Quero-te segurar com o meu interior
arenoso e pedregoso sem te arranhar.
Com tanto por ti afora,
por ti adentro,
nao entendo como nao te consigo pegar.
Perspicaz,
so na espuma me fazes agarrar.
Quando te toco, desmonto-te tristemente.
E eu tenho prazer
em ver-te espumar.

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quinta-feira, maio 19, 2005

Musicalmente

Num espaco desertico, poetico,
deliro.
Enrolo as pernas em momentos pautados.
Articulo-me dentro, fora, entre o deleite das notas
sempre uma oitava a cima da materia que respiro.
Todas as claves se colam ao meu veludo.
Percorro a dedos
sons abarrotados de benjoim.
Pedacos agitados, baralhados de demencia
produzem onomatopeias medrosas, timidas
que se entranham no lugar certo.
Torno-me uma danca alternativa, imprevisivel.
Sou impotente `as vagas, `as forcas,
`as caramelizacoes sonoras
e das varias tentativas de acordar.
Do fundo do corpo contrastado, orquestrado
ha luzes doces a estelar-me dos poros.
A cortina da musica vai levantar.

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quarta-feira, maio 18, 2005

Sou um carrossel

Fulmino-me opacamente para um interior
longinquo, inacessivel
onde o ardor, a interpidez
o sabor picante das minhas dancas
sao ininterruptos.
Uno com garras os sentidos
abruptamente, brutamente, descompassadamente.
Tenho pressa.
Distorco assimetricamente
desvios extemporaneos que irrefutavelmente
se entrenham, se banham,
penetram meticulosamente, convulsivamente
na distancia entre a minha forma de sonhar
e da coisa que sou sempre com calma.
Exponho-me ao ar, ao tempo, aos reflexos
ao aroma de qualquer indiferenca,
`a inutilidade dos meus olhos fechados.
Improviso a incandescencia indolente
dos meus actos inebriantes,
indescritiveis, indesculpaveis, indesejaveis,
indestrutiveis, indeterminados, indevidos.
Mergulho no tempo.
Sufoco a realidade, virtualidade, vitalidade
que inspiro submersa nesta concha
virtiginosa, voluptiosa, lasciva,
lubrica, sensual.
Vitalizo-me gradualmente,
sonoramente, entusiasticamente
por caminhos verosimeis,
ludibriosos, secos,
inacreditavelmente belos.
A lentidao que intrinsecamente
me provoca inevitaveis vontades de ser
contraluz, contrapasso, contraste
nao morre.
Isto sou eu.

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domingo, maio 15, 2005

Hoje

Hoje quero ser a musica que vou cantar,
reanimar a voz.
Agarrar aquilo que nao se ve.
Sentir aquilo que nao se pode tocar.
Rodar pelo meu proprio eixo
dancar, dancar, dancar.
Hoje quero ser o vento que vou soprar,
apanhar o ceu aos bocadinhos.
Dizer aquilo que nao se pode contar.
Encher-me de sabores.
Pensar em nao pensar
sonhar, sonhar, sonhar.
Hoje quero por do avesso aquilo que de mim resta,
molhar os labios.
Respirar-me por dentro.
Meter os pes na agua.
Mandar a relva ao ar
voar, voar, voar.
Hoje quero , mas nao vai dar.
A lua tocou-me o rosto
ja vai alta, ja la vai.
Tenho estrelas para contar.
O dia, que pena,
acabou, acabou, acabou.
Nao choro. Suspiro.
Tenho a noite para me segurar.

sexta-feira, maio 13, 2005

Aqua

Sao ondas,
os meus dedos compridos,
lendas que nao existem.
Sao mar,
as cores que respiro,
retratos partidos, perdidos.
Sao agua,
as maneiras que sonho,
formas que danco.
Sao correntes
que me movem em camara lenta,
que me soltam.
Sao gotas
que nao disfarco, que escorregam,
escorrem pela epiderme.
`E suor,
a qualquer coisa que sou com dificuldade.
`E um lago,
como me cotorno a lapis de carvao,
me moldo sem maneira, livre.
`E liquido,
esta facilidade de me manter viva,
de me perder sem me mover.
`E chuva,
este ter medo de ser humana.
`E vapor,
as viagens que faco
por acaso, so assim.
Sao rios
de verdade dentro dos meus olhos,
receio de emergir para ti.

terça-feira, maio 10, 2005

Num espaco calmo

numa estranha cor da noite, num outro lugar que nao existe:

- Sempre vieste.
- Atrasei-me, mas vim.
- Agora nao ha Sol. Nao ha dia.
- Agora ha o que tu quiseres.
- Musica, quero ser sons.
- Cores, so te posso dar tons.
- Oh entao deixa la ...
- Vamos ser felizes?
- So se for para sempre.
- Da-me a mao. Vamos brincar.
- Anda. Sempre podemos passar pela Lua.

E nunca tao longe estiveram de todos, nem de eles proprios, quando se formaram num so.

segunda-feira, maio 09, 2005

Perdoa

Perdoa se te fiz sol e luz
dentro dos meus olhos.
Se te sonhei e desejei
mesmo quando nao quiseste.
Desculpa se te toquei
assim ao de leve
mesmo quando nao pediste.
Pensei que nao sentisses.
Perdoa se tirei
os sentimentos mais profundos,
para vive-los nao chegam dois mundos
que ainda vou explorar.
Quando reparei
tinha tanto de ti espalhado ca dentro.
Faz-me confusao, juro nao entendo
como podes tu viver
sem o amor que te tirei
todos os dias um bocado
com medo que um dia me faltasses.
Agora voltei.
Nao tens de te assustar.
Estou aqui
para te dar a vida que te privei
os sonhos que roubei
os arrepios que te implorei.

domingo, maio 08, 2005

Luz

Tudo o que vejo brilha.
Onde vou tudo cintila.
Aquilo que penso `e magia.
`E fantasia.
Perde-te na minha cabeca.
Cheira esta utopia.
Degusta esta ilusao.
Voa pela minha alma.
Sente o meu esplendor.
Ve como vivo
dancando uma sinfonia encantada
produzida por sentimentos estranhos.
Acompanhada por coicidencias invulgares.
La estas,
no meio da minha resplandescencia.
Nao me apagues
so porque nao reluzes.
Desculpa,
nao tenho poder na minha luz preciosa.
Isto `e o meu conjunto de sons,
`e como respiro...
Nao me substimes pelo meu olhar fragil.
A minha rima `e doce mas mortal.

quarta-feira, maio 04, 2005

Caixinha de Surpresa

Tenho uma caixinha pequenina
com um mundo perfeito dentro.
Gosto de la ir as vezes voar.
Dentro dos meus sonhos sou livre.
Tento acreditar em ti.
Mas nao vens, nenhuma nuvem tem a tua forma.
Nao fico triste por ser a unica no meu mundo,
fico bem por te-lo so para mim.
Sois e luas e musicas como so eu vejo.
Como eu gosto de ver.
E vou inventar um sentimento perfeito,
este nao me chega.
Mereco mais.
Surpreende-me.
Neste meu mundinho pequenino,
nada `e novo.
A agua...`e morna.
Quero beber de ti, da tua frescura.
Nao tenho medo do que possas pensar,
sou imune a tudo aquilo que me possa fazer chorar.
Perco me em mim mesma
cada vez mais e mais e mais
nao me consigo encontrar.
Sou um mar de constantes frustrações
De sentimentos contraditórios.
Nao vens?
Nao faz mal.
Dentro da minha caixinha me deixo estar.
Eternamente.
A sonhar.
Queria poder acordar e saber que existes…

terça-feira, maio 03, 2005

Simplesmente uma carta de amor

"Se morrer amanhã... fico triste!
Fico triste porque houve varias coisas que eu não te disse... coisas que me fizeste sentir e sonhar que mais ninguém fez... coisas que não sei se voltarei a sentir com mais alguém...que me ficaram e ficarão na memória eternamente!
Fizeste-me voltar à vida numa altura que me julgava morta... fizeste as coisas de maneira tal, que ( até ) voltei a sorrir com as pequenas coisas da vida, pequenas situações... imagens... cheiros... músicas... o simples dia ou noite ganharam uma essência diferente.
Fico triste, pela vezes que te quero abraçar e não o faço, pelas vezes que te quero beijar e não beijo.
Fico também porque sei que mereces que dê o melhor de mim e não dou...
Se eu morrer amanhã, não morro em paz.
Quero-te conhecer tanto, ainda!
Quero saber aquilo que por vezes não dizes em palavras, mas de um modo ou de outro me transmites e que não consigo decifrar.
Se morrer amanhã, vou chorar.
Vou chorar porque ainda não conheci aquele teu outro mundo, aquele que ainda não visitei, embora saiba que as portas estão abertas...
Morro infeliz, se morrer amanhã.
Quero-te fazer tanto ainda. Quero-te fazer sorrir, arrepiar, sonhar, desejar... chorar também ( porque não?) e queria-te fazer feliz, aquela felicidade que parece que flutuamos a 5cm do chão!
Morro e choro amanhã, se souber que não o conseguirei.
Tu conseguiste... podes morrer... porque me fizeste feliz...sorrir, amar e desejar, e eu não te vou esquecer.
Quando relembro certas coisas... não resisto e quando dou por mim, estou a sorrir... sim , tu consegues que eu seja feliz apenas pelas lembranças e se eu não te visse nunca mais, acredita que nem a mais minuscula coisa seria esquecida...!
Se morrer amanhã, não chores.
Foi porque o mereci, foi porque não te mereci.
E serás feliz, certamente; eu encarregarme-ei disso, esteja onde estiver.
Se morrer amanhã, quero dizer que te adoro e me farás muita falta no sitio para onde for e que as músicas que canto agora porque me lembro de ti , não as deixarei de cantar, não serás esquecido.
De qualque maneira se morrer amanhã, tenho ainda o dia de hoje para te abraçar e sentir o teu cheiro e ouvir o teu sorriso; sim és tu, é o teu sorriso que eu quero ver por último, se morrer amanhã..."

e eu, que so queria uma carta de amor...

domingo, maio 01, 2005

Sou tao previsivel

Nunca triste estou demais
ao olhar para o pouco que de mim faco.
Julgo-me.
Penso-me distraida.
Sonho-me em segredo.
Falo-me baixinho.
Canto-me ao ouvido.
Vamos, agarra-me.Vamos dancar esta valsa.
Lanca-me a todos.
Passeia-me, descobre-me, vive-me.
Que estranha.
Se ao menos existisses
e me fizesses cor, letras e sons.
Culpo o inexistente.
Condeno a especie de vida em que fui inserida.
Perco o jogo em que lanco o dado sempre sozinha.
Quando te tornares real eu torno-me credivel.
Tenho mesmo pena de mim.
Sou tao previsivel.

sexta-feira, abril 29, 2005

Das-me vontades

Sou tao comprida que nao acabo.
Ca dentro ha tanto e no entanto,
pouco se passa.
Acordo-me.
Deito-me.
As vezes durmo.
No meu comprimento nao cabem sonhos,
sou estreita.
Na minha aparente calmaria, as coisas crescem devagar.
Sou como uma rua empoeirada,vazia
sei la, uma tarde mal passada.
Inacabada.
Tocas-me.
Nao sinto. Nao te sinto.
A tua mao em mim
nao `e fria,
nao `e quente.
Apenas existe.
Como te quero sentir...
Se sair daqui a tempo de te procurar,
vou-te provar.
Isso, das-me vontades!

quarta-feira, abril 27, 2005

Sem cor

Tornei-me num espaco em branco.
Insignificante.
Esqueco-me que existo, sou mesmo decepcionante.
Destruo o nada.
Que absurdo.
Sinto-me ilogica, lenta, rasa, disforme.
Passas perto. Ao lado. Por cima. Por baixo.
Nunca dentro de mim.
Nem me sentes.
Sou o transparente invisivel sem cor.
Nao me queres realcar?
Existo.
Neste sitio incolor em que me torno minima, existo.
Ca morro para nao viver.
A musica `e oca e as minhas maos sao frias.
Nao ha brilho e o branco `e sujo.
Quero sair deste lugar sem cheiro.
Janelas.Janelas.Janelas.
So consigo alcancar janelas.
A minha espera se sair,
estas tu e um recado e um segredo e o meu medo
de ouvir em tom de musica
"Benvinda a um Mundo que nao `e o teu."

Tempos verbais

Passei toda a minha vida a olhar para o futuro.
De tanto o desejar, desejei o eterno.Morrer no infinito.
Mas o infinito nao se conjuga.So tem presente.
Nos tempos dos verbos, do futuro so ha o imperfeito.
Agora do passado ate ha o mais-que-perfeito. Ha o perfeito, e por vergonha o imperfeito.
Todos queremos um passado mais-que-perfeito.
Poucos querem o futuro porque sabem que `e imperfeito.
Porque o passado nao foi perfeito e do futuro so ha o imperfeito, diz-se:
" Vive o dia-a-dia."

Prof.F.Carvalho Rodrigues

Acho que vou comecar a fazer isso...viver o dia-a-dia...mas ja sei como sou...depressa canso-me...!

( tenho mesmo um problema com as reticencias ... )

terça-feira, abril 26, 2005

Nasci com uma mao por cima da minha cabeca

Nasci com uma mao por cima da minha cabeca.
Nao me toca.
Juro que a sinto.
Leva-me por caminhos que sao fora de mim,
fora daqui.
Eu, que so queria ver como `e ca dentro,
dentro de mim.
Projecta-me constantemente,
tenho medo.
Sou marioneta no palco do coracao de alguem.
Quero ser so eu,
quero ser so uma.
As folhas das arvores voltam sempre a mim.
A chuva passa sempre por aqui.
O amor pergunta sempre por ti.
Nao tenho tempo.Nao tenho espaco.
Todos os dias decoro um texto
para a minha estreia pessoal.

segunda-feira, abril 25, 2005

"conto estrelas em ti"

-Nao estejas na lua, desce `a Terra!

-Nao me chega esta Terra.

-Se realista, terra `a terra!

-Mas eu sou do tipo ar, ar.

despediu-se da colega e disse:
"conto estrelas em ti"

Na sala, um silencio ficou suspenso por palavras que tambem quiseram voar.(Teresa Guedes)

As minhas palavras tambem sabem voar...(coisa estranha!).
As vezes nem as consigo apanhar!
Talvez tenha de aprender a deixa-las ir, para poderem voltar...!

domingo, abril 24, 2005

Sentes?

Ficou de noite e nao apareceste.
Tambem nao me mexi.
Deixei-me sossegada
entre o cobertor e as lembrancas.
O cha gelou em cima da mesa,
como a minha pele.
Aqueceste-me e agora deixas-me arrefecer.
O cadeeiro ilumina o meu cansaco,
desapontadamente fecho os olhos `a cor amarelada
que se tornou a minha vida.
Paro-me no tempo e presto atencao.
Mas nada. Nao ha sons.
Nao ha nada.
Torno-me infeliz, sentes?
Aqui so ha o cha,
o cobertor,
o candeeiro,
as lembrancas.
Apago-me.
A sala fica muda,
eu fico surda
porque
ficou de noite e nao apareceste.

sexta-feira, abril 22, 2005

Ritual

...Até que tudo parou,
tudo!
Mesmo as águas que bailam
a dança monótona
que é a vida,
a dança que por vezes é proibida.
Será que não se pode viver,
será que não se pode morrer
sem que alguém sofra?
Recomeça a vida
a monotonia
...até que tudo parou...


quinta-feira, abril 21, 2005

fazes sentido no meu sistema solar

Es poeira estranhamente limpa
que respiro, sem dar conta
expandes-te ca dentro...
perto do meu ser nefelibata.
O sol que bate na janela do meu corpo
es tu. Sempre tu.
Teimas em fazer parte
de qualquer coisa insignificante,
envolvente, mentirosa...
Sempre te considerei um voador,
um descobridor de sonhos.
E aqui nada ves, pouco descobres.
Insistes em voltar
cada dia mais cedo.
Invulgarmente, nao me fecho
`as tuas aglomeracoes fogosas
E... esquisito...
vais fazendo sentido no
meu sistema solar.

quarta-feira, abril 20, 2005