sexta-feira, dezembro 09, 2005

Cinco pessoas. Um quarto.

Uma divisao, um quadro, uma janela, papeis, um sofa.

Uma sala vazia com um quadro de mau gosto, de lado uma janela velha de frente para um sofa gasto. Nao chao, papel por todo o lado.

Um quarto simples, vazio. Uma janela com vidros bacos, um sofa com os bracos rasgados e o chao coberto de papel. Um quadro escuro e velho.

O teu quarto. O teu lugar, como sempre lhe chamaste. O sofa de veludo vermelho em que tantas noites te sentaste para ver a lua passar devagar. Por tras encontrei estas velas. Sao daquelas de cheiro. Nao sei porque estao escondidas. Nunca me falaste nelas... O quadro. O quadro que encontraste naquela casa em Sintra. Ninguem gostou dele, mesmo assim insististe leva-lo contigo.
Sento-me no chao e comeco a ler todos os papeis que encontro. Poemas, musicas, desenhos, pautas, palavras soltas em papeis rasgados. Penso como deve ficar bonito com as velas acesas.
O teu quarto quase vazio esta cheio de segredos e o ar que nele se respira leva-me para a tua loucura.

O meu lugar. O meu espaco. O meu quarto.
O meu quadro, que trouxe de Sintra numa noite que la fomos. So eu me apaixonei pelas cores mortas, sujas do retrato de uma menina com o vestido vermelho escuro. Ao lado a minha janela, daquelas velhas e de madeira com a tinta a lascar, mas `e a minha janela de frente para o meu sofa. Um sofa que ja nem me lembro se me derem ou se encontrei. Sempre me lembro dele existir e lembro-me dele sempre velho e gasto. Com o veludo russo e os bracos rotos. Passei infinitas noites sentada no meu sofa para ver as sombras que a lua faz ao passar. Lembro-me de todas as fases. Por vezes acendia algumas velas que espalhava pelo chao e de barriga para o tecto ficava a espera que a lua aparecesse. No fim escondia-as atras do sofa porque era o meu segredo ,o meu ritual. Nunca te contei isto.
So agora reparo na quantidade de coisas que escrevi. Nunca tinha espalhado tudo pelo chao. Fica bonito com as velas acesas, devias gostar. Parece um filme, uma fotografia.
Fotografia! Quase nao me lembrava...
Deve estar uma entalada por tras da moldura do quadro. A tua. A quem eu nunca contei o segredo das velas. Nem que tinha uma fotografia tua.
Tenho um quarto quase vazio cheio de segredos e no ar a minha loucura.

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era uma vez um homem que largou as flores

Ontem na minha rua, todos os passaros deixaram de ser azuis. E o ceu nunca mais se viu vermelho.
Ontem na minha rua, a chuva deixou de ser cafe. E o chao nunca mais se viu de vidro. Ontem na minha rua, todos os candeeiros deixaram de guiar a luz. E os meus dedos congelaram.
Ontem na minha rua, ninguem apanhou as estrelas que pocuravam alguma boca aberta. E no lugar delas nunca mais se viu a entrada do mundo.
Ontem na minha rua, coisas estranhas aconteceram.
Coisas estranhas fazem-me confusao.
Ha dois dias, um homem largou as flores porque eram pesadas demais e a minha rua mudou.
Faz todo o sentido, entao.

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quarta-feira, dezembro 07, 2005

seis vontades de rir

Sao trinta e sete estrelas no parapeito da tua janela, oito passaros no passeio, catorze flores a fechar e cinco ondas a rebentar na minha cara.
Tres liberdades de expressao, cinco sonhos esquecidos, uma joaninha morta no meu quarto e seis invernos passados no jardim.
Quatro vozes na tua cabeca, tres gotas de perfume, um livro sem fim, dez coisas em que me tranformei e vinte dias para comecar.
Nove quadros por pintar, um seculo que chega atrasado, dois violinos no chao e sete gemidos no meu peito.
Mas nada disto nos define.

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terça-feira, dezembro 06, 2005

- So um bocado...

- Assim?

- Nao. Olha para mim, assim.

- Esta melhor?

- Nao. Presta atencao: assim! Como estava antes!

- Antes de que?!

- Antes de teres tocado!

- Desculpa, nao tenho certificado para o manuseamento de coracoes partidos.

- Quando foi para partir nao precisaste de curso nenhum...

- Nao estava a espera de um coracao tao pesado. Podias ter avisado!

- Nem me deste tempo...agora como `e que fico? Assim partida?

- Nao, chega ca. Assim, olha.

- Assim?!

- Escondes aquela parte e tens de ter cuidado para nao tocares na outra. Assim ninguem vai reparar.

- Achas mesmo?

- O coracao so se parte por fora! - disse ele

Nao acreditei.
Quando me voltei so estava eu.
E nao chao o meu coracao.

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